Há uns dois dias não se sentia bem. Uma tristeza tomava-lhe conta, não sabia de onde vinha, como era, nem como se livrar. Quer dizer, até sabia, sabia muito bem. Mas jamais daria o braço a torcer que, aquilo que era para ser gostoso e fazer bem, estava fazendo mal.
Não havia mudado em nada, desde antes inclusive. Mas via no outro uma indiferença, um descaso, e em alguns momentos chegou a amaldiçoar mentalmente aqueles dias maravilhosos. No entanto, na esperança de vivê-los novamente, afastou os agouros da mente e colocou-se a analisar o mundo, a vida e se achar errado, ou errante.
Não havia porque na mudança, se tudo era assim antes, porque não haveria de ser agora? Começou a pensar que era mais uma vez sua depressão de final de ano que se aconchegava, como sempre. A hora em que os balanços da vida profissional eram sempre mais positivos, infinitamente mais positivos, que na vida amorosa. A insegurança sempre achava o caminho e saía das profundezas para atormentar. O mundo cá fora colaborava, colocando caraminholas na cabeça. O outro que não colaborava e fazia questão de provocar. Ok, também havia ciúme.
Deveria viajar, aproveitar mais. Mas estava sempre a trabalhar, tinha sempre algo a fazer. As férias eram um bom período para trabalhos extras, desses que complementam o orçamento. Precisava crescer na carreira. Na verdade, não precisava, ela ia bem, mas queria mais. E nisso tudo juntava as picuinhas, um ser mais teimoso que o outro e as coisas não iam bem. Atormentava os amigos com seus dramas por horas e horas e nem assim encontrava a solução. Já não falava coisa com coisa, perdia-se nos assuntos.
Havia decido. No ano que se iniciava iria dedicar a si mesmo. Iria malhar, sentir-se bem e desejado, iria estudar línguas, viajaria a Europa e, porque não, tentaria umas sessões de terapias. Precisava entender a si mesmo e só poderia fazer isso por si só. Mas a terapia seria uma boa aliada. Analisando-se por si mesmo poderia enganar-se e fazer-se pensar ser o que não era. Seria também menos bonzinho. Nãos hão de sair com mais frequência de sua boca, assim beijos na chuva, pois estava decretado que se entregaria a um amor, desses meio malucos, meio intensos, ou intensos demais ou sem sal e nem açúcar. Que durasse um ano ou meia hora, dane-se!
E assim, sem mais nem menos, assinou tudo o que havia pensado e disse “cumpra-se”.
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