segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Um talvez cheio de reticências...


Maysa nunca havia feito tanto sentido. Seu mundo havia caído. E de um altura que nem imaginava que existia. Que dizer, sabia, mas não queria admitir que apenas culpa sua de que o tombo fora tão alto. Enfim, era mais uma vez suas palavras sendo usadas contra ele mesmo. “Cada um tem o que merece”. Merecia. Merecia porque ninguém além dele mesmo poderia ser responsável pelo rumo de sua vida.


“Eu preciso te contar uma coisa”. Algo doeu dentro. Sabia que não seria uma boa notícia. Já esperava pelo que viria. Sentia no coração havia dias. Sabia reconhecer mudanças de hábito há léguas de distância. Notava como as coisas estavam diferentes. Sabia também que não poderia cobrar nada. Sabia que não tinha o direito de pedir explicações, satisfações. Remoeu-se em uma mistura de raiva, frustração, tristeza. Buscou forças nas entranhas e proferiu sinceros desejos. “Boa sorte. Seja feliz. Espero que dê certo”.

Havia distância. Certamente havia sentimentos em proporções distintas em cada um. Ou não. O outro simplesmente fez o que sempre disse e seguiu sua vida. Mais uma vez sentiu que veio ao mundo uma frigideira. Jamais teria sua tampa. Essa verdade era cada vez mais real. Ao mesmo em que sabia que em breve passaria. Sempre que havia se despido de sua couraça seco, esquentado seu coração gélido, permitido-se idelizar algo que – “um dia quem sabe”, dizia em suas divagações noturnas – pudesse vir a ser algo maior, talvez amor.

Ainda não podia chamar de amor. Era um sentimento que não conhecia a fundo. Nunca teve um relacionamento longo. Ou melhor, nunca teve um relacionamento. E mais uma vez iniciou ali o processo de eutanásia seja lá do fosse aquilo em seu coração. Mais uma vez, era esse o seu fim. Fim do sentimento, fim da história.

Duas vidas haviam se cruzado naquele feriado. Tinha sido maravilhoso. Parecia que para ambos. Mas em um dos lados talvez o terreno não fosse fértil ou a eutanásia tinha sido iniciada muito antes, evitando na outra parte esse sentimento – ou sofrimento – que agora vivia.

Talvez não fosse pra ser agora. Talvez seja para ser depois. Talvez nunca nem tenha sido. Só sabia que o adorava. Não fazia a menor ideia de como seria dali em diante. Talvez vivesse. Talvez num futuro se reencontrassem. Talvez passasse a conhecer alguém. Talvez, porque a vida é nada mais do que senões, talvezes e reticências.

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