quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Uma insistência tola em não sair de cena


A resposta que rasgou-lhe a alma fez com que milhões de pensamentos fossem criando-se inadvertida e sistematicamente em sua mente. Eram eles todos os contra-ataques que gostaria de proferir, como se tivessem a força do mesmo soco que tomara e imediatamente trouxera-lhe uma ausência de sorriso no rosto. Não sabia como lidar. Nunca sabia. Era sempre seguro de si diante de tantos outros e situações, mas ali, especificamente naquela relação, não sabia o que fazer. Nunca. 


Era horrível a sensação de não saber em que ponto estava, em que patamar era colocado na estante alheia. Na sua métrica, sabia muito bem a medida e o prestígio que dispensava ao outro. Mas quando procurava se encontrar nos padrões alheio, via-se imerso em diversas categorias baseadas horas no humor, outras no tesão e as demais conforme conviesse.

Era como se, o tempo todo, fosse preciso conquistar o espaço que, a seu ver, já tinha garantido. Precisava encantar o lado oposto - que de oposto tinha muito pouco - o tempo todo a cada vez. Mas o excesso de dúvidas impostas a cada tentativa já cansavam-lhe. Era muitas e se convertiam em uma espécie de cegueira que embaçava mas não tirava por completamente o discernimento. Era complicado focar em meio a vultos. Não era mais capaz de diferenciar um sorriso de uma careta.

Tentava entender se havia um prazer em lhe navalhar o peito. Chamava-se de idiota por se preocupar. Deveria ter ouvido o conselho: relaxar. Mas como poderia, se tudo o que mais precisava na vida era de certezas? Achou-se brinquedo. Odiou-se por ter-se deixado ser. Mas não havia sido objeto, a situação não permitia tal assimilação. Era sim idiota por duvidar. 

Rondavam-lhe as perguntas. Tinha todas as respostas. E por que então não as aceitava? Porque aquelas eram as suas, poderiam não ser as corretas. Era preciso que fossem proferidas pelo outro. Mas não seriam. Se questionasse, receberia como retorno um aceno para que deixasse de drama. Se não o fizesse, conviveria com aquilo, esperando que mais uma vez o tempo fosse deixando tudo calmo de novo dentro de si.

Silenciou-se. Preferiu assim. Talvez a melhor técnica - se é que existe algo técnico em situações como tal - fosse ir matando o que cogitou existir dentro de si aos poucos, aproveitando cada flechada que lhe era lançada.Talvez fosse inclusive parte da tática do outro lado para que isso também acontecesse. Talvez essa fosse a resposta. Talvez uma solução aos milhões de "talvez".

Chegou mil vezes à conclusão de que não adiantava apenas de sua parte quer estar perto, abraçado, tocar. Não era justo apenas de sua parte projetar viagens, festas, momentos e alegrias com a outra presença. Não era saudável imaginar como seria se resolvesse trazer seu desejo à tona e de repente a resposta fosse o que não gostaria de ouvir. Há pouco ainda ouvira: 'espere sempre pelo não'. Mais uma vez, talvez fosse melhor deixar para lá e assim o fez. Sabia que em breve tudo passaria e voltaria a entrar em cena...