quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Das surpresas que a morte prega na vida

Era começo da madrugada quando soube de sua partida. Um amigo que era mais próximo deu-lhe a notícia, que era esperada, mas não para aquele momento. Essa vida é engraçada, não é mesmo? No dia anterior, primeiro do ano, havia se deparado, entre as que via, com uma foto dele e que nem era objeto de sua procura. Lembrou que há tempos não procurava notícias, mas também que como não as havia recebido, tudo deveria estar como antes, sem grandes avanços. Lembrou-se de como foram tão poucos os momentos que passaram juntos, mas que nutria um carinho especial por ele por conta de toda a diversão que lhe proporcionara em tão ínfimo espaço de tempo. 


Um sentimento misto, de alívio e impotência, tomou-lhe conta. Era difícil acreditar que aquilo havia acontecido. A descrença na morte e a preocupação com o amigo que sofria do outro lado ao lhe dar a notícia fazia a mente entrar em parafusos. Fez silêncio, tanto virtual quanto real. Um filme passava novamente em sua cabeça. As risadas, aquele pirulito na boca, o cigarro “de artista”, a cara de bobo e as piadas que fazia. A música eletrônica, a casa bagunçada, o copo de cerveja , a formatura, o baile, a valsa, de novo as risadas. “Precisamos lembrar é que ele curtiu a vida rápida que teve. Da forma maluca dele, mas soube aproveitar”, disse ao amigo ao conseguir retomar a conversa.

Foi um atropelamento. Desses em que ninguém teve culpa. Não por descaso, nem por falta de investigação. Uma coisa do acaso. Agora custava-lhe a vida, que findou pouco antes daquela hora. Na verdade, vinha-se findando naquele hospital há tanto tempo. Coma. Cama. Sem muito sucesso, poucas esperanças, muitas orações e um aperto com pouco força na mão durante uma visita. “Pense nas coisas boas. Por ele, até você que se diz ateu teve fé e rezou”, lembrou ao amigo. “Pelo menos agora não tem mais aquelas agulhas, né? Está livre!”, confortava-se o outro do outro lado. Buscavam afirmações para que aquilo que lhes doía ficasse com cara de ser a melhor solução. Orou e, em pensamento, desejou-lhe que fosse com Deus.