segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

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Ato III
O problema residia em suas paixões. Paixões. Apenas isso era o que conseguia pensar. Acho que novamente, a melhor saída era voltar a ter o coração seco, gelado, que havia sido completamente vã a luta de quatro anos para voltar a pensar em amar. E agora quem realmente tomava a rédea dos pensamento era o ator. Cansara-se de tentar entender a personagem, ou o hibrido que se fizera parecer.

As paixões... então era isso que incomodava. Era isso que parecia "vazio". No entanto, as paixões para o ator num eram as mesmas que sentiam o atirador, e muito menos a platéia. Falava muito de sexo, falava muito em beijos, mas se percebessem-lhe um pouco mais, viriam que há muito não fazia nem um, muito menos o outro. Não que isso o redimisse, mas era ali que se diferenciavam a personagem o artista. Era exatamente nesse tênue detalhe que tudo se desfazia, mas a platéia passava batido e não percebia.
Ele "se atirava" demais. Fora isso o que ouvira do atirador, e que lhe cravou forte na alma. Se o atirador fosse capaz de ver de outra maneira, teria notado então que soh se atirava na vida real para cima de uma pessoa. Na encenação, poderia até ser, mas na vida real, era uma única pessoa que lhe interessava.

As outras paixões eram uma forma de matar aos poucos essa que lhe machucava, que lhe maltratava, que havia sido podada pouco antes de aparecer de fato. A pessoa havia lhe dado o doce e em seguida, sem mais nem menos, retirado. A desculpa era de que em breve começaria procurar, no ator, os defeitos que ele não tinha. Mas o ator tinha se envolvido, já era tarde pra ele... Mas silenciou. Poderia ter dito tudo o que sentia, tudo o que lhe veio à boca e à mente, mas preferiu apenas ouvir e chorar por dentro. Lançou-se na busca de um conforto, algo que lhe tirasse o foco daquele acontecido. E foi ai que pareceu que se "atirava" para todo mundo. E ai estava a casca do problema, bem mais profundo do que a superficialidade com a qual o viam.

Mas depois disso, o ator resolveu que seria diferente. Faria difente, agiria diferente, mostraria-se diferente, e contaria a todos o tamanho do que se passava, por mais que isso fosse lhe doer. Havia adiado tanto isso, pois sabia que lhe cortaria na carne profundamente, mas era chegada a hora. Já havia se remoído demais, já havia se machucado demais. A paixão já era demais para ser só dele.

Fim do terceiro ato!

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Ato II
Numa nova temporada do espetáculo da vida, novamente um ovo atirado ao palco, durante uma cena cotidiana, uma conversa amena, um comentário bobo... De volta todas aquelas sensações ruins. De volta toda a desconcentração do texto já decorado e dito tantas vezes, de volta a sensação de fracasso. Talvez porque o ovo viesse de algum de muita estima, de alguém que despertava seus instintos, seus desejos. De alguém que de certa forma, conhecia também o ator e não só a personagem. Alguém que lhe era e ainda é muito querido.

Comentou com alguém sobre o fato e ouvi que lhe era obscuro, que nunca sabia quando era a personagem e quando era o ator em suas falas, que era dificil a ele dicernir entre os dois fosse no teatro ou no palco da vida. Preocupou-se com aqueles sons que lhe entravam na cabeça como bombas. Não era nada daquilo, não tinha nada de "vazio" dentro de si. Tinha era necessidades, vontades, tinha medo, tinha o que talvez a platéia não tivesse...

Parou, respirou, desejou que o mundo acabasse quando abrisse os olhos novamente. Mas o mundo era rebelde e continua ali, diante do nariz. COmo sempre, buscou apoio naqueles que sempre o entendem e sempre o socorrem. Acabou aliviado, mas não contente, quis saber do atirador de ovo o porque daquela atitude. Chamou-lhe perto de si e perguntou o que havia feito de errado. Onde pecava com tanta intensidade.

Havia ouvido dos amigos que o atirador era inconstante, era dificil de lidar, era imprevisível. Para ele, que conhecia o atirador de outras formas, que sabia dos seus problemas, que já o tinha visto fora da carapuça que vestia para amedrontar, não era nada daquilo. Soube que o problema residia em suas paixões. A personagem, segundo o atirador, se atirava demais. Mas céus, se esse era o problema, que lhe apontasse uma solução.

Resolvera de novo tirar a personagem da peça, encerrar a temporada. Deixar viver apenas o ator, mesmo que sem encenar. Pensou que aquela comédia lhe rendia rótulos demais, rótulos que lhe davam porque talvez coubessem a si, mas era mais comodo culpar o ator, ou a personagem... jah nem entendia mais seus pensamentos.

A encenação não era falsa, era apenas engraçada, divertia-se com ela. Se olhassem seus atos, ao invés de suas palavras, veriam que naquilo tudo num havia interesses reais, eram formas de encantar, de fazer rir, de agradar... Mas não viam dessa forma, viam como se fosse aquilo mesmo que residia nas palavras, elas ao pé da letra, cada qual com seu significado denotativo e real. Era uma cabeça em chamas, um bombardeio que nem as sinapses eram mais capaz de regular. E do atirador só ouviu o seguinte:

- Deixar de abraçar, beijar ou dançar não resolve. Isso só vai piorar.

Mergulhou
de cabeça no seu abismo enquanto nada lhe vinha à mente.

Fim do segundo ato!

Uma crise em cinco atos

Ato I
Ouviu de quem nem o conhecia direito que era isso, aquilo e aquilo outro. Antes já havia ouvido algo que não dizia respeito a si próprio, mas vinha como resposta a uma pergunta sua. Achou melhor consultar quem de longa data já sabia como era, quem era e porque sofria.
Ouviu como resposta o espanto do amigo sobre aquilo que lhe haviam dito e acalmou-se um pouco. Mesmo assim, ainda dentro de si carecia de respostas, respostas que lhe curassem a dor dos disparos sofridos. Começou, como sempre, um auto-exame de suas atitudes, de suas falas, de todo o seu redor.

Era estranho ver como as pessoas não lhe viam como realmente era. Como faziam dele uma imagem da qual apenas representava. Confundiam o ator com a personagem. Personagem essa que iria sair de cena, já que a platéia do espetáculo não era de seu interesse que mudasse. Foi com outro amigo que comparou a vida a uma peça de teatro. E realmente, a definição caiu como uma luva. O amigo, como bom diretor que era, lhe disse que a personagem não precisava deixar a cena completamente e que sim, era preciso que lhe dessem um tom diferente, que, talvez, ao invés de soar como protagonista, ela passasse a ser coadjuvante. E completou:

- Ás vezes, a platéia amarga faz da comédia, por melhor que seja o elenco, um fiasco total.

Fim do primeiro ato!