O que mais ouvia das pessoas era “Não vejo a hora que o ano termine!”. Parecia que realmente 2009 não estava sendo muito bom. E não era só pra si. Quer dizer, a princípio o ano não tinha sido de todo mal. Mas de uns tempos para cá parece que o mundo tinha se voltado completamente a ser do contra.
Era impressionando como as coisas aconteciam para os outros e não para ele. Pensou em se benzer. Benzeu-se. Uma, duas, oito, dez vezes. Em rituais diferentes, lugares diferentes. Parecia de nada adiantar. Começou a achar que era inveja ou então macumba da brava. Deviam ter botado seu nome na boca do sapo. Pobre do sapo!
Sentia-se desanimado, descrente... Vai gente dando certo sem esforço nenhum. Indignava-se por dentro, mas faria o que? Não havia com quem reclamar... Reclamava em pensamento, talvez imaginando que um deus pudesse ouvi-los esbravejar e se compadecer... Achou que deus era surdo. Ou quem sabe era ele que teimava em não ouvir ao deus...
Dentro de si, sentia um desejo de mudança, de voltar ao que havia abandonado. A história do arrepender-se apenas daquilo que não fez. E havia deixado de fazer. Havia mudado de idéia no meio caminho, por força das circunstâncias e todas as desculpas mais. E agora, por que o medo de recomeçar de novo?
O mundo custava caro. Quando as coisas pareciam melhorar, não era por muito tempo. Não durou nem uma semana, dez dias... No dia do aniversário, achando que tinha chegado ao fim do inferno astral, uma bomba cai na sua vida. Enfim, tudo se resolve, mas nem sempre a solução é a ideal. Não deixara a explosão estragar muita coisa, mas mesmo assim, o buraco aberto no bolso era grande.
Saiu para beber com os amigos. Divertiu-se. Riu, falou besteiras, sentiu-se melhor. Tinha muitas coisas a dizer, muitas a pensar, poucas respostas. Na verdade, tinha até algumas conclusões, mas faltava-lhe coragem talvez de admitir, meter a cara e começar de novo. A palavra era exatamente essa. Coragem. Sempre mostrou-se forte, com vontade, mas dessa vez falta-lhe exatamente isso. Coragem de dizer que não queria mais aquilo e que, desse certo ou não a nova empreitada, era o que queria e iria ser feliz.
Fazia planos de Europa em 2011 ao mesmo tempo em que fazia planos para mudar de vida em 2010. Faltava resolver mil coisas. Faltava um emprego fixo com bom salário, faltava um custo de vida mais baixo também, impossível no momento. Faltava mandar tudo pelos ares e dizer tchau. Faltava fazer mais planos que o sagitarianismo impedia. Na verdade, faltava era ser mais sagitarianos com ascendente em gêmeos.
Que assim o seja em 2010.
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