segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

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Ato II
Numa nova temporada do espetáculo da vida, novamente um ovo atirado ao palco, durante uma cena cotidiana, uma conversa amena, um comentário bobo... De volta todas aquelas sensações ruins. De volta toda a desconcentração do texto já decorado e dito tantas vezes, de volta a sensação de fracasso. Talvez porque o ovo viesse de algum de muita estima, de alguém que despertava seus instintos, seus desejos. De alguém que de certa forma, conhecia também o ator e não só a personagem. Alguém que lhe era e ainda é muito querido.

Comentou com alguém sobre o fato e ouvi que lhe era obscuro, que nunca sabia quando era a personagem e quando era o ator em suas falas, que era dificil a ele dicernir entre os dois fosse no teatro ou no palco da vida. Preocupou-se com aqueles sons que lhe entravam na cabeça como bombas. Não era nada daquilo, não tinha nada de "vazio" dentro de si. Tinha era necessidades, vontades, tinha medo, tinha o que talvez a platéia não tivesse...

Parou, respirou, desejou que o mundo acabasse quando abrisse os olhos novamente. Mas o mundo era rebelde e continua ali, diante do nariz. COmo sempre, buscou apoio naqueles que sempre o entendem e sempre o socorrem. Acabou aliviado, mas não contente, quis saber do atirador de ovo o porque daquela atitude. Chamou-lhe perto de si e perguntou o que havia feito de errado. Onde pecava com tanta intensidade.

Havia ouvido dos amigos que o atirador era inconstante, era dificil de lidar, era imprevisível. Para ele, que conhecia o atirador de outras formas, que sabia dos seus problemas, que já o tinha visto fora da carapuça que vestia para amedrontar, não era nada daquilo. Soube que o problema residia em suas paixões. A personagem, segundo o atirador, se atirava demais. Mas céus, se esse era o problema, que lhe apontasse uma solução.

Resolvera de novo tirar a personagem da peça, encerrar a temporada. Deixar viver apenas o ator, mesmo que sem encenar. Pensou que aquela comédia lhe rendia rótulos demais, rótulos que lhe davam porque talvez coubessem a si, mas era mais comodo culpar o ator, ou a personagem... jah nem entendia mais seus pensamentos.

A encenação não era falsa, era apenas engraçada, divertia-se com ela. Se olhassem seus atos, ao invés de suas palavras, veriam que naquilo tudo num havia interesses reais, eram formas de encantar, de fazer rir, de agradar... Mas não viam dessa forma, viam como se fosse aquilo mesmo que residia nas palavras, elas ao pé da letra, cada qual com seu significado denotativo e real. Era uma cabeça em chamas, um bombardeio que nem as sinapses eram mais capaz de regular. E do atirador só ouviu o seguinte:

- Deixar de abraçar, beijar ou dançar não resolve. Isso só vai piorar.

Mergulhou
de cabeça no seu abismo enquanto nada lhe vinha à mente.

Fim do segundo ato!

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