Sábado, não, talvez já fosse domingo dada a hora que a festa
começou, parece que as músicas foram selecionadas para me fazer pensar ainda
mais nisso tudo que quero abstrair. Teve uma hora que Rosana foi ressuscitada e
cantou que há "tanta coisa pra dizer, mas a gente nem se fala" e que
"tudo vai ficando assim". Na hora, em meio a um pouco de álcool e mais
uns goles da bebida em minha mãos, me veio à cabeça a nossa situação. Seria tão
mais fácil se conversássemos. Pelo menos pra mim, seria.
Hoje, esse silêncio todo faz uma semana. Parece que a vida
segue, mas na verdade não. Cheguei a sonhar que tudo havia se resolvido, que
estávamos as boas de novo, rindo de tudo feito bobos. Mas era sonho, e no
próprio, me contestei se aquilo era de fato real. Não era. Acordei com um misto
de contentamento, pela esperança reacendida, com a tristeza de sequer saber se
ela tem fundamento. Não sei se você sonha com as mesmas coisas, não sei nem se
pensa sobre tudo isso. Ando vivendo - e convivendo - com incertezas.
Mas estou respeitando aquela promessa que fiz de te dar um
tempo. De deixar você se afastar, como foi sua decisão, embora tudo o que eu
queira é você por perto. A proximidade daquela data tem me feito ficar
apreensivo. Queria comemorar contigo, tal qual fizemos na sua data quando você
estava aqui. Queria também buscar ajuda, mas resolvi que isso seria só entre
nós dois, que ninguém precisava saber, se envolver e assim tem sido. É difícil,
sabe, é melhor quando você pode contar para alguém e escutar algumas palavras
de volta. Mas, não, é melhor ninguém interferir. Enquanto isso, vou escrevendo.
Um dia conversando com um outro amigo, ele me disse uma
frase que tenho guardada e usado para me acalmar por esses dias. "O tempo
das pessoas não é o mesmo que o seu". Acho que faz sentido. Acho que é
isso, né? Talvez o seu tempo seja diferente do meu, talvez a forma como eu
gostaria de resolver seja diferente da sua, talvez eu queira acertar os
ponteiros na hora e você daqui um mês ou ano. Ou talvez nem queira, tenho que
pensar também nessa chance, concorda?
Tem horas que me pego pensando na falta que tudo me faz. Aí
me pergunto se nada te faz falta também... fico com receio de que a gente não
se fale por mais sete dias, que eles se tornem sete meses e se passem sete anos
e o resto da vida. Mas não vou forçar. Penso mil vezes em te procurar, em
ligar, em chamar, em falar "e aí, já deu a sua hora? já podemos ser amigos
como antes?", mas talvez não seja ainda o momento. É aquele medo de
esperar sempre pelo "não",
lembra? Então talvez seja preciso esperar mais um pouco, aguardar por uma luz, sei lá.
Enquanto isso, ecoa em minha mente que há "tanta coisa
pra dizer, mas a gente nem se fala"...
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